SOCIOLOGIA DA ARTE

SOCIOLOGIA DA ARTE

O campo de pesquisa da Sociologia da Arte são as relações identificáveis entre os conteúdos e as formas dos diversos gêneros e tipos de obra de arte e: as interpretações correntes da própria arte; os modos de apreciação por parte do público; a posição social do artista; ou variáveis macrossociológicas como: a estratificação social; a estrutura de classe; as formas de dominação; a organização política; os fenômenos de mudança social e cultura; a ideologia das classes dominantes e dominadas. Por “arte” entende-se, geralmente, a pintura e a escultura (as “artes plásticas”), a música, a dança, a literatura, o teatro e o cinema, embora no uso anglo-saxão e alemão, art ou Kunst refiram-se preferencialmente às artes plásticas. Em princípio, costuma-se afirmar que tais relações são de interdependência, visto que se imputa à arte a capacidade tanto de influir sobre essas variáveis quanto de sofrer seus efeitos.

Apesar da vastíssima literatura produzida há mais de um século, a Sociologia da Arte continua sendo um dos ramos menos consolidados e sistemáticos da Sociologia contemporânea, no qual é difícil identificar a emergência de orientações definidas de pesquisa e de elaboração teórica. Poucos tratados de Sociologia dedicam a ela pelo menos um capítulo, e quando isso acontece, trata-se de textos que, mais do que efetuar a síntese de pesquisas realizadas, reafirmam a necessidade de estudar as relações entre a arte e a sociedade apelando para a constatação óbvia de que os conteúdos, as formas, as técnicas, os fins e as interpretações da arte sempre mudaram com as transformações da sociedade (da feudal à burguesa, da burguesa à socialista, ou da rural à industrial, da tradicional à moderna).

De fato, o estado de indeterminação da Sociologia da Arte parece refletir menos a relativa carência de pesquisas metodologicamente fundamentadas e mais a indeterminação real do seu objeto – a obra de arte – e a multiplicidade das interpretações que foram oferecidas pela estética e pela crítica de arte, desde os tempos dos gregos. Tais interpretações formam, até hoje, o substrato de categorias e de valores para qualquer pesquisa de Sociologia da Arte.

Os pontos de maior interesse da relação arte/sociedade são:

O artista
Entende-se por “artista “não apenas os produtores originais, como o compositor ou o romancista, mas também os reprodutores, como o maestro, o pianista, a dançarina etc. O nível e o estilo de vida de grupos ou tipos ou categorias de artistas, o papel a eles reservado, as associações que formam, sua relação de dependência-independência em relação aos promotores, aos adquirentes, aos críticos, ao Estado, a sua subcultura, são aspectos fundamentais para a consideração sociológica do fenômeno artístico. Eles estão, além disso, estreitamente ligados à problemática dos intelectuais.

A obra
Não apenas o conteúdo e a forma, mas também cada elemento constitutivo, os objetos representados, os materiais, as técnicas empregadas, são todos elementos que podem ser conectados à sociedade e à cultura em que a obra nasceu. A Mesquita de Córdoba não diz apenas que os árabes se sobressaíram na arquitetura e na decoração e não na pintura e escultura porque a religião islâmica proibia a representação de pessoas. Um quadro de van Eick, não diz apenas que a representação de interiores burgueses corresponde à ascensão de uma nova classe europeia. Ambos contêm inúmeros detalhes, dos baixos-relevos em estuque que reproduzem versículos do Alcorão às vestes de Gli sposi Arnolfini, que foram propostos e impostos aos artistas pela tradição e pela sociedade de que eram membros, junto com os materiais e as técnicas de que deveriam se servir, também nos casos em que eles foram só ponto de partida para uma inovação.

O mercado
Diz-se que Beethoven foi um dos primeiros a exigir um justo preço para as suas obras, opondo-se à prática universal do mecenato (o artista sendo mantido pelo príncipe, no melhor dos casos, como maestro de capela ou poeta ou pintor da corte, em troca do monopólio sobre sua produção). A venda de serviços artísticos por dinheiro era, no entanto, uma prática corrente desde a Renascença; uma loja como a de Verrocchio ou de Perugino era uma verdadeira oficina de produção de “objetos” artísticos, com pessoal especializado em operações diferentes e dezenas de clientes dispostos a pagar. Todavia, não se pode falar propriamente em mercado de arte quando a obra é vendida e comprada apenas por um nobre. Só quando começa a difundir-se o costume de revendê-la, junto com o hábito de produzir obras independentemente do pedido do promotor ou do consumidor final é que se pode fazê-lo. Tal desenvolvimento verificou-se sobretudo a partir da segunda metade do século XIX, até alcançar em nossos dias, especialmente nas sociedades capitalistas, a forma de sistema complexo de “produção” e consumo da obra de arte, ativado por centros institucionais como as galerias, os editores, as revistas, os catálogos, as exposições etc.

A crítica de arte
Também os críticos interpretam e desenvolvem um papel social: alimentam o mercado; orientam o gosto alheio; decidem, até certa medida, sobre a popularidade de um autor ou de um período ou de uma escola; influenciam a política dos governos em relação à arte; reforçam ou contestam a educação artística oferecida pela escola; mantêm relações sociais com quase todos os agentes que de uma forma ou outra têm a ver com a fenomenologia da arte; escrevem e reescrevem as histórias da arte – uma condensação de memória coletiva da tradição artística, em que inclusões e exclusões são, em geral, socialmente condicionadas.

O colecionismo
O surgimento do hábito de recolher num único lugar grupos de obras de arte para a apreciação ou o enriquecimento privado; o seu declínio em favor do desenvolvimento do colecionismo, para possibilitar a apreciação pública (museus); o paralelo desenvolvimento do colecionismo particular, que em parte tem caráter de genuína busca da arte como elemento da vida cotidiana, e em parte caráter meramente comercial-financeiro (a obra como uma espécie de investimento, de seguridade). Todos esses são fenômenos que podem ser conectados a mudanças amplas e capilares das principais estruturas socioculturais, da estratificação social à organização da família, ao nível da escolaridade média, à industrialização.

O público
Os gostos, a composição sociodemográfica, a distribuição ecológica, a organização, os modos de apreciação das obras, a demanda, as reações, a distribuição dos gastos, as relações com os artistas e os críticos, o consenso e o dissenso em relaçào a determinada política da arte por parte dos públicos, correspondentes aos diversos gêneros e tipos de arte, ofereceram os materiais para um dos capítulos mais robustos desse ramo da Sociologia. A expansão e a diferenciação dos públicos levam a se falar em transformação da arte em cultura de massa.

A escola e a arte
A orientação e a extensão da educação artística nas escolas médias e superiores, a difusão e as características da educação artística junto às classes dominantes, médias e subalternas, a organização social das academias de artes plásticas, dos conservatórios, dos institutos de arte dramática, das escolas de dança, o ensino da História da Arte nas universidades, estão em relação de interdependência com as ideologias de governo e de oposição, com a estratégia política das duas partes, com as respectivas relações de força.

A política da arte
Por trás das licenças concedidas ou negadas a esta ou àquela mostra, das premiações ou das perseguições de artistas, das intervenções repressivas ou da permissividade da censura, da capacidade ou da incapacidade de defender o patrimônio artístico de uma nação, das declarações oficiais sobre a função social e a moralidade ou a imoralidade da arte, dos meios concedidos ou negados à escola para melhorar a educação artística, em geral é possível vislumbrar a presença de uma forma de dominação, a intenção de defender determinada estrutura do Estado, a estratégia de uma classe que protege a sua posição, os interesses de grupos e associações capazes de exercer poder ou influência. Desde a metade do século XIX o radicalismo social, sobretudo de esquerda, mas também de direita, tentou desmascarar tais relações na sociedade capitalista, esforçando-se ao mesmo tempo – sobretudo nos países em que chegou ao poder – para subvertê-las a seu próprio favor, em nome de uma noção própria de uso político da arte.

A arte popular
Ao lado da arte produzida pelas ou para as classes cultas, existe desde sempre uma arte que circulava, em sua maior parte, no seio das classes historicamente consideradas não-cultas. Nos materiais artísticos produzidos por essas classes – os quais, em geral, estão em contato com a arte das elites, influenciam-na e por elas são recebidos, como no caso da pintura naif na segunda metade do século XX – a pesquisa sociológica busca os sinais da sua condição humana, da forma particular de criatividade que as distingue, os elementos de uma cultura oposta à dominante, ou dos modos como esta é vivida e remodelada pelas exigências da alteridade subalterna.

A arte como Sociologia
Muitas obras de arte – teatrais e literárias, pictóricas e cinematográficas – oferecem, não só conhecimentos relativos à sociedade que as expressou, mas também conhecimentos de ordem geral a respeito dos fenômenos da vida social de todos os tempos, como: os processos de estratificação social e de socialização; de controle social e de autoridade; de adaptação ao ambiente e de devoção religiosa. A arte, em todas as suas formas, é, pois, um recurso fundamental para a análise sociológica.


Sociologia da Arte I - O que é a arte?



Sociologia da Arte II - A Esfera Artística


Arte e mundo: António Pinho Vargas at TEDxCoimbra




MiniDOC: Arte x Cultura no século XX. dir: Augusto Júnior



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